Dia 07 de julho de 2013.
Era chegado o dia da prova.
Desejava um clima fresco, mas reservaram pra um dia quente, de sol e sem nuvens. Então seria assim: a primeira Maratona teria sabor de Maratona.
Cheguei ao local da largada com 40 minutos de antecedência. Naquela hora, meu pensamento já estava impreciso e todas as estratégias que tracei, juntamente com os conselhos que recebi, desapareceram. Havia apenas um sentimento perseverante: medo (do calor, das subidas, da distância).
Iniciei a prova sem a noção de como deveria me comportar. Uma página em branco a ser preenchida e, mesmo com todos os treinamentos feitos, esqueci por onde começar.
Os cinco quilômetros iniciais foram de reordenação do meu corpo e mente. Entrei no quilômetro cinco ainda desorganizado e indócil. Ao mesmo tempo que o calor crescente me mantinha conservador, eu me inquietava com os segundos que ia perdendo a cada quilômetro. É obvio que sempre tive um desejo de superar meus tempos durante a Maratona, a exemplo do que fiz em outras provas. Mas, iniciada aquela peleja, desconfiei que não poderia colocá-la na mesma prateleira das demais.
Decidi por seguir num ritmo confortável, sem fazer esforço. Ao meu redor, Marcelo Kawano (Atacama) e Renato davam as caras vez por outra - seguindo num
pace semelhante.
O medo desapareceu quando realizei que seria impossível consumar a Maratona idealizada e que o
pace praticado em treinos não caberia naquelas condições climáticas. Naquele instante, parei de travar batalhas com o sol e segui de acordo com o que cabia em meus pulmões. No quilômetro 8, relaxei. Um alívio me invadiu, sorri. Percebi que, daquela maneira, conseguiria vencer a prova.
Prossegui com a certeza de estar com a estratégia certa nas mãos e resisti às tentações de mudar meu ritmo. Embora eu sentisse que poderia apertar o
pace, só iria decidir pela mudança de ritmo no quilômetro 30.
Considero ter ultrapassado as subidas do quilômetros 23 e 28 com tranquilidade. Atenuava o calor de mais de 30 graus a cada posto de hidratação em que eu bebia 100 ml d'água, jogando 300 ml para no corpo.
Entre os quilômetros 28 e 29, talvez tenha vivido o melhor momento da prova. A organização nos fez correr ao som de música clássica; o som de violinos preenchia toda a extensão do túnel São Conrado.
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Descendo o Vidigal
Entrando no Leblon |
A subida na Niemeyer foi um momento definitivo na corrida. Ao redor, muitos quebravam: andavam ou alongavam as panturrilhas enquanto eu seguia inteiro. A entrada no Leblon foi outro momento marcante, por estar saindo com velocidade da descida do Vidigal e encontrar uma concentração popular que aplaudia cada atleta que por ali chegava. Entrava nos últimos 12 km cheio de disposição. Acelerei levemente o
pace. Ao redor, muitos corredores ficavam para trás, sofriam com câimbras, outros eram conduzidos pelas ambulâncias em direção ao posto médico.
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Eu e Júlia - Copacabana |
Ultrapassada a praia de Ipanema, em Copacabana ganhei um gás extra. Faltavam apenas 5 quilômetros e à frente, minha família me esperava no caminho e pude correr alguns metros ao lado de minha filha. Entrei nos quilômetros finais renovado e com energia para um
sprint nos últimos 700 mt. Venci os 42.195 mt sentindo que poderia correr mais 10 km.
Não concluí minha Maratona em menos de 4h. Também não consegui manter meu plano inicial de 4h e 15 min. Mas venci! E terminei inteiro! Sei que poderia ter dado mais, mas só percebi isso após a conclusão da prova.
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Sprint final |
Não tive muros em meu caminho; não tive ursos subindo em minhas costas; depois do quilômetro 8, em nenhum momento achei que não conseguiria terminar; também não pensei em desistir. De repente, a maratona tornou-se algo tangível e hoje a tenho na palma das minhas mãos. Não houve grandes dramas e, por isso, embora muito feliz, não estou eufórico.
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Linha de chegada |
A distância foi concluída em 4h37min48seg. Sou, enfim, um Maratonista. Mas ainda sou um sedentário que luta, dia após dia, para manter-se em atividade.
Chego ao fim dessa caminhada e considero ter saído vitorioso e fortalecido. Foram três anos lapidando um indivíduo resistente e confiante - um tolo que descobriu que, adotando uma estratégia correta, definitivamente, não tem limites.
Um grande abraço e um eterno agradecimento a todos que contribuíram com essa conquista:
Minha querida esposa Karine: pela paciência em me aguentar e por ter tolerado minha ausência durante os treinos.
Minha filhota: simplesmente por existir na minha vida.
Meus pais, minha irmã e meus amigos Apicianos;
meu coach Rodrigo (Ápice) e Cláudio (Ápice): sem vocês eu não iria tão longe;
à Tatiana e Fernando (449 - nutrição) e tantas outras pessoas e amigos que estiveram a meu lado durante esses 3 anos.
Que venham outros desafios.
Luiz Guilherme Loivos de Azevedo